Copom vê efeito positivo da queda do dólar na inflação, mas segue sinalizando juro alto por período 'bastante prolongado'
23/09/2025
(Foto: Reprodução) O Banco Central (BC) avaliou nesta terça-feira (23) que a queda recente do dólar e a desaceleração do ritmo de crescimento da economia contribuem para o controle da inflação, mas observou que as projeções para os preços nos próximos anos ainda seguem acima da meta.
Informou, ainda, que a inflação de serviços tem se mantido mais resiliente (resistente) por conta de um "mercado de trabalho que segue dinâmico" e a uma atividade que tem apresentado moderação gradual. O BC tem dito que a desaceleração da economia é necessária para conter a inflação.
"Para além das variações dos itens, ou mesmo das oscilações de curto prazo, os núcleos de inflação têm se mantido acima do valor compatível com o atingimento da meta há meses, corroborando a interpretação de uma inflação pressionada pela demanda e que requer uma política monetária contracionista [juro alto] por um período bastante prolongado", diz o Banco Central.
Copom mantém a taxa básica de juros em 15% ao ano
O BC disse entender que a "reancoragem" (queda) das expectativas de inflação às metas definidas para os próximos anos "exige perseverança, firmeza e serenidade".
As informações constam na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da instituição, realizada na semana passada, quando a taxa básica de juros da economia foi mantida estável em 15% ao ano. Esse é o maior nível da taxa Selic em quase 20 anos.
Um dólar mais barato, segundo economistas, tem o potencial de frear o crescimento da inflação. Isso porque a queda da moeda norte-americana torna importações mais baratas (de insumos e produtos finais), e também, barateia viagens internacionais. Também limita a inflação de produtos nacionais que têm seus preços atrelados ao dólar, como alimentos por exemplo.
Como as decisões são tomadas
🔎A taxa básica de juros da economia é o principal instrumento do BC para tentar conter as pressões inflacionárias, que tem efeitos, principalmente, sobre a população mais pobre.
Para definir os juros, a instituição atua com base no sistema de metas. Se as projeções de inflação estão em linha com as metas, é possível baixar os juros. Se estão acima, o Copom tende a manter ou subir a Selic.
Desde o início de 2025, com o início do sistema de meta contínua, o objetivo de 3% será considerado cumprido se a inflação oscilar entre 1,5% e 4,5%.
Com a inflação ficando seis meses seguidos acima da meta em junho, o BC teve de divulgar uma carta pública explicando os motivos.
Ao definir a taxa de juros, o BC olha para o futuro, ou seja, para as projeções de inflação, e não para a variação corrente dos preços, ou seja, dos últimos meses.
Isso ocorre porque as mudanças na taxa Selic demoram de seis a 18 meses para ter impacto pleno na economia.
Neste momento, por exemplo, a instituição já está mirando na meta considerando o primeiro trimestre de 2027.
Para 2025, 2026, 2027 e 2028, a projeção do mercado para a inflação oficial está em 4,83% (com estouro da meta), 4,29%, 3,9% e em 3,7%. Ou seja, acima da meta central de 3%, buscada pelo BC.
Segundo análise do BC, as expectativas de inflação, medidas por diferentes instrumentos e obtidas de diferentes grupos de agentes, permanecem acima da meta de inflação em todos os horizontes, mantendo o cenário de inflação adverso.
"Mais recentemente, observa-se um incipiente movimento de queda nas expectativas de inflação medidas pelo Focus [pesquisa feita pelo BC com o mercado] mas ainda mais concentrado nos horizontes mais curtos, por uma combinação de elementos, entre os quais a política monetária contracionista e os números recentes de inflação. O Comitê reforçou e renovou seu compromisso com a 'reancoragem' das expectativas e com a condução de uma política monetária que enseje tal movimento", acrescentou.
Dólar
Reuters/Lee Jae-Won/Foto de arquivo
Veja os recados do Copom
1) Cenário externo se mantém incerto. Sobressai, segundo o BC, o debate sobre o início do ciclo de corte por parte do Federal Reserve (BC dos EUA) e o ritmo de crescimento norte-americano, ao mesmo tempo em que persistem dúvidas sobre o impacto das tarifas sobre a inflação norte americana. "A avaliação predominante no Comitê é de que persiste maior incerteza no cenário externo e, consequentemente, o Copom deve preservar uma postura de cautela (...) Em tal debate, discutiu-se a recente apreciação do câmbio, possivelmente relacionada em parte ao diferencial de juros, em parte à depreciação da moeda norte-americana frente a diversas moedas", informou o BC, na ata do Copom.
2) Atividade econômica doméstica segue indicando certa moderação no crescimento. Tal conjuntura traz maior convicção de que o cenário delineado pelo Comitê está, até agora, se concretizando. Estímulos fiscais ou creditícios não provocaram, até agora, divergências relevantes em relação ao que se esperava. Mas avaliou que, por outro lado, a inflação de serviços tem se mantido mais resiliente, respondendo a um mercado de trabalho que segue dinâmico e a uma atividade que tem apresentado moderação gradual.
3) Após uma firme elevação de juros, o Comitê relembra que optou por interromper o ciclo e avaliar os impactos acumulados. "Agora, na medida em o cenário tem se delineado conforme esperado, o Comitê inicia um novo estágio em que opta por manter a taxa inalterada e seguir avaliando se, mantido o nível corrente por período bastante prolongado, tal estratégia será suficiente para a convergência da inflação à meta", acrescenta.
"Endossando o cenário esperado do Comitê até aqui, há uma moderação gradual da atividade em curso, certa diminuição da inflação corrente e alguma redução nas expectativas de inflação. No entanto, o Comitê seguirá vigilante e não hesitará em retomar o ciclo de alta se julgar apropriado. Reafirmou-se o firme compromisso com o mandato do Banco Central de levar a inflação à meta", conclui o Banco Central.