Dólar cai a R$ 5,27 após aceno de Trump a Lula; Ibovespa fecha aos 146 mil pontos pela 1ª vez
23/09/2025
(Foto: Reprodução) Trump diz que abraçou Lula e que tiveram ótima química
O dólar fechou em queda de 1,10% nesta terça-feira (23), cotado a R$ 5,2791 — menor valor desde 6 de junho de 2024, quando encerrou a R$ 5,2498. Na mínima do dia, a moeda foi negociada a R$ 5,2765.
Já o Ibovespa atingiu um novo recorde. O principal índice da bolsa brasileira avançou 0,91%, aos 146.425 pontos, fechando pela primeira vez acima dos 146 mil pontos. Durante a sessão, também alcançou a marca dos 147 mil pontos pela primeira vez, mas perdeu força.
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O mercado reagiu às participações de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump na Assembleia Geral da ONU. Apesar dos discursos divergentes, a surpresa veio de uma revelação de Trump: os dois se encontraram rapidamente nos bastidores, em clima amistoso, e cogitam uma reunião para a próxima semana. Ainda não há definição sobre data ou formato desse encontro.
Em seu discurso, o presidente dos EUA afirmou ter tido uma "química excelente" com Lula. O gesto foi interpretado pelo mercado como sinal de diálogo político, ajudando a derrubar o dólar — que iniciou o dia em alta — e impulsionando a valorização da bolsa.
▶️ Antes da abertura dos mercados, o Banco Central divulgou a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que destacou o efeito positivo da queda do dólar sobre a inflação, mas reforçou que os juros devem seguir altos por um período “prolongado”.
▶️ Nos EUA, investidores acompanharam principalmente a fala do presidente do Fed, Jerome Powell, que afirmou que a política monetária atravessa uma fase delicada: a inflação permanece resistente, enquanto o mercado de trabalho dá sinais de fraqueza.
Veja a seguir como esses fatores influenciam o mercado.
Entenda o que faz o preço do dólar subir ou cair
💲Dólar
a
Acumulado da semana: -0,77%;
Acumulado do mês: -2,63%;
Acumulado do ano: -14,57%.
📈Ibovespa
Acumulado da semana: +0,38%;
Acumulado do mês: +3,54%;
Acumulado do ano: +21,73%.
Trump promete encontro com Lula
O presidente Donald Trump afirmou nesta terça-feira (23), em discurso na Assembleia Geral da ONU, que se reunirá na próxima semana com o presidente Lula para discutir as retaliações que Washington tem imposto ao Brasil.
No discurso, o republicano declarou ter tido “uma química excelente” com o presidente brasileiro, “que pareceu um cara muito agradável”.
"Eu estava entrando (no plenário da ONU), e o líder do Brasil estava saindo. Eu o vi, ele me viu, e nos abraçamos. Na verdade, concordamos que nos encontraríamos na semana que vem", disse Trump. "Não tivemos muito tempo para conversar, tipo uns 20 segundos.
E Trump seguiu com os elogios ao presidente brasileiro. "Ele parece um cara muito legal, ele gosta de mim e eu gostei dele. E eu só faço negócio com gente de quem eu gosto. Quando não gosto deles, eu não faço. Quando eu não gosto, eu não gosto."
Fontes do governo brasileiro confirmaram a reunião entre Trump e Lula para a próxima semana, mas não informaram se será presencial ou por telefone.
Segundo Patrick Buss, operador da Manchester Investimentos, o mercado reagiu positivamente às sinalizações.
“Interpretando a possibilidade de maior aproximação entre Brasil e Estados Unidos como um fator positivo para as relações internacionais e para os ativos locais — reflexo disso foi a alta do Ibovespa, que avançou mais de 1% no pregão após a divulgação das notícias.”
Ata do Copom
A reunião do Copom foi realizada na semana passada, quando a taxa Selic foi mantida em 15% ao ano — o maior nível em quase 20 anos. Na ata, o BC avaliou que a recente queda do dólar e a desaceleração da economia ajudam no controle da inflação, mas ressaltou que as projeções para os próximos anos continuam acima da meta.
Acrescentou ainda que a inflação de serviços tem se mostrado mais resistente devido a um “mercado de trabalho dinâmico” e a uma atividade econômica que avança de forma gradual. A instituição reforça que a desaceleração é necessária para conter os preços.
"Para além das variações dos itens, ou mesmo das oscilações de curto prazo, os núcleos de inflação têm se mantido acima do valor compatível com o atingimento da meta há meses, corroborando a interpretação de uma inflação pressionada pela demanda e que requer uma política monetária contracionista [juro alto] por um período bastante prolongado", diz o Banco Central.
Segundo o BC, a volta das expectativas de inflação para a meta definida exige “perseverança, firmeza e serenidade”.
Falas de Powell
O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmou nesta terça que o banco central enfrenta uma situação delicada: a inflação continua elevada, enquanto o mercado de trabalho dá sinais de fraqueza.
"Os riscos de curto prazo para a inflação estão inclinados para cima e os riscos para o emprego, para baixo — uma situação desafiadora", disse.
Powell destacou que a criação de empregos caiu para uma média de 25 mil nos últimos três meses, abaixo do necessário para manter o desemprego estável, embora outros indicadores do mercado de trabalho sigam firmes.
Já a inflação continua acima da meta, pressionada pelas tarifas de Trump, que encarecem os preços.
O Fed projeta novos cortes de 0,25 ponto em outubro e dezembro, mas enfrenta divergências internas: alguns dirigentes defendem cautela diante do risco inflacionário, enquanto outros pedem reduções mais rápidas para proteger o emprego.
Atualmente, a taxa básica está entre 4% e 4,25%, patamar ainda considerado alto, mas com espaço para ajustes conforme a economia evolua.
Sob pressão do governo Trump, que tenta substituir a diretora Lisa Cook, Powell ressaltou que medidas emergenciais em crises passadas ajudaram a evitar danos maiores, mas deixaram “cicatrizes” que afetarão os EUA — e o mundo — por muito tempo.
"Em democracias ao redor do mundo, a confiança pública nas instituições econômicas e políticas foi desafiada. Aqueles de nós que estão no serviço público neste momento precisam se concentrar firmemente em executar nossas missões críticas da melhor maneira possível, em meio a mares tempestuosos e ventos cruzados poderosos", disse Powell.
Bolsas globais
Os mercados em Wall Street fecharam em queda nesta terça-feira. Os investidores reagiram com cautela após as novas falas de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, sobre os rumos dos juros nos EUA.
O Dow Jones recuou 0,19%, a 46.293 pontos, o S&P 500 caiu 0,55%, a 6.657 pontos, e o Nasdaq teve perdas de 0,95%, a 22.573 pontos.
Na Europa, as bolsas terminaram a sessão em direções diferentes. O otimismo com dados positivos de atividade econômica na zona do euro sustentou os ganhos em Frankfurt e Paris, mas o crescimento mais fraco do Reino Unido pressionou o mercado de Londres. Além disso, investidores também aguardavam o discurso de Powell sobre os rumos da economia global.
O índice Stoxx 600, que reúne empresas da região, avançou 0,38%, a 555 pontos. O DAX de Frankfurt subiu 0,36%, a 23.611 pontos, e o CAC 40 de Paris ganhou 0,54%, a 7.872 pontos. Já o FTSE 100 de Londres destoou, caindo 0,04%, a 9.223 pontos.
Na Ásia, os mercados fecharam sem direção única. As bolsas da China ficaram praticamente estáveis, com os ganhos de bancos compensando a pressão sobre empresas de tecnologia. Em outros países, houve variações moderadas, com alguns índices em alta e outros em queda.
Em Hong Kong, o Hang Seng caiu 0,70%, a 26.159 pontos. Em Xangai, o índice SSEC recuou 0,18%, a 3.821 pontos, e o CSI300 caiu 0,06%, a 4.519 pontos. Já em Seul, o Kospi subiu 0,51%, a 3.486 pontos; em Taiwan, o Taiex avançou 1,42%, a 26.247 pontos.
Notas de real e dólar
Amanda Perobelli/ Reuters