Encontro com Trump: Haddad faz referência a Bolsonaro e diz que Lula sabe se respeitar e não vai se expor a humilhação
24/09/2025
(Foto: Reprodução) O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quarta-feira (24) que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não vai se expor a nenhuma eventual humilhação caso decida se encontrar com o mandatário norte-americano, Donald Trump.
Em resposta ao deputado Evair Vieira de Melo (PP-ES), integrante da bancada do agronegócio, que recomendou e questionou se Lula ficará nos Estados Unidos para se encontrar com Trump na próxima semana, Haddad afirmou que o presidente brasileiro não precisa de lição de diplomacia de ninguém.
"O Lula não está precisando de lição de diplomacia de ninguém. Porque, se aconteceu alguma coisa ontem que o senhor deveria até se envergonhar, em relação ao presidente anterior [Bolsonaro], é a maneira como o presidente Lula é tratado no mundo inteiro por todos os chefes de estado. Só tem hoje um presidente que fala com quem ele quiser a hora que ele quiser: seja com o presidente da China, da Rússia, da França, primeiros-ministros, com quem ele quiser", disse o ministro Haddad.
Governo brasileiro adota cautela sobre conversa entre Trump e Lula
O ministro continuou a fala ressaltando a postura do presidente Lula e a comparou com a do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
"Eu não vi o seu presidente [Bolsonaro] cumprimentar um chefe de Estado, a não ser de forma vergonhosa para falar ‘I love you’ para o presidente dos Estados Unidos. O Lula não vai se expor a esse tipo de humilhação. O Lula anda com a cabeça erguida, ele sabe da origem humilde que ele tem, ele não nega a origem humilde que ele tem, mas ele sabe se fazer respeitar, como ele está fazendo agora, está fazendo o Brasil ser respeitado. Por isso que 500 mil pessoas vão para a rua no domingo, pedindo respeito à nossa soberania, à nossa democracia", acrescentou o ministro.
Donald Trump na ONU
Em discurso nesta terça-feira (23) na Assembleia Geral da ONU, o presidente dos EUA, Donald Trump, disse que se reunirá na semana que vem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para debater as retaliações que os EUA vêm aplicando ao Brasil em reação ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Fontes do governo brasileiro confirmaram a reunião entre Trump e Lula na semana que vem, mas não disseram se a conversa ocorrerá ao vivo ou por telefone. Essa será a primeira conversa direta entre os dois líderes desde o início da crise do tarifaço.
Durante o discurso — no qual ele também exaltou seu próprio governo e criticou a ONU —, Trump disse que teve "uma química excelente" com o presidente brasileiro, "que pareceu um cara muito agradável".
"Eu estava entrando (no plenário da ONU), e o líder do Brasil estava saindo. Eu o vi, ele me viu, e nos abraçamos. Na verdade, concordamos que nos encontraríamos na semana que vem", disse Trump. "Não tivemos muito tempo para conversar, tipo uns 20 segundos", emendou.
E Trump seguiu com os elogios ao presidente brasileiro.
"Ele parece um cara muito legal, ele gosta de mim e eu gostei dele. E eu só faço negócio com gente de quem eu gosto. Quando não gosto deles, eu não faço. Quando eu não gosto, eu não gosto. Por 39 segundos, nós tivemos uma ótima química e isso é um bom sinal."
No discurso desta terça, o presidente dos EUA voltou a criticar indiretamente o processo e o Judiciário. Ele afirmou haver "censura, repressão, corrupção judicial e perseguição a críticos políticos" no Brasil.
"O Brasil agora enfrenta tarifas pesadas em resposta aos seus esforços sem precedentes para interferir nos direitos e liberdades dos nossos cidadãos americanos e de outros, com censura, repressão, armamento, corrupção judicial e perseguição de críticos políticos nos Estados Unidos", disse Trump, antes de elogiar Lula.
Montagem com fotos dos presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e dos Estados Unidos, Donald Trump
Getty Images/BBC
Lula condenou ataques às instituições
Falando antes de Trump, o presidente Lula afirmou, na ONU, Lula não mencionou explicitamente as taxas de importação de 50% impostas pelos Estados Unidos.
Mas, ao condenar os ataques às instituições e à economia do Brasil, deixou subentendida a crítica à ação do governo Trump em defesa das big techs americanas e de Jair Bolsonaro.
Lula começou seu discurso afirmando que a autoridade da ONU está em xeque e relacionou a crise do sistema internacional a ataques à democracia:
“Atentados à soberania, sanções arbitrárias e intervenções unilaterais estão se tornando regra. Em todo o mundo, forças antidemocráticas tentam subjugar as instituições e sufocar as liberdades. Cultuam a violência, exaltam a ignorância, atuam como milícias físicas e digitais, e cerceiam a imprensa. Mesmo sob ataque sem precedentes, o Brasil optou por resistir e defender sua democracia, reconquistada há 40 anos pelo seu povo, depois de duas décadas de governos ditatoriais”.
Lula não citou nominalmente os Estados Unidos ou o presidente Donald Trump, nem usou a palavra “tarifaço” no discurso, mas criticou ataques à economia brasileira e tentativas de interferir no Judiciário brasileiro:
“Não há justificativa para as medidas unilaterais e arbitrárias contra nossas instituições e nossa economia. A agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável”.
O presidente rejeitou a possibilidade de anistia:
“Essa ingerência em assuntos internos conta com o auxílio de uma extrema-direita subserviente e saudosa de antigas hegemonias. Falsos patriotas arquitetam e promovem publicamente ações contra o Brasil. Não há pacificação com impunidade”.